A Chapada não está sozinha

A Chapada não está sozinha

por Fred Rahal*

 

Pergunta, porém, aos animais, e eles te ensinarão; ou às aves do céu, e elas te contarão. Fala com a terra, e ela te responderá…” (Jó 12, 7-8)

Desde o princípio, Deus confiou ao ser humano a missão de cuidar da terra que criou:

Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no Jardim do Éden para o cultivar e guardar.” (Gênesis 2,15)

A Chapada do Araripe é um desses jardins especiais da criação. São as águas que brotam como bênçãos da terra, os pássaros únicos que cantam suas histórias, as árvores que abrigam vida há séculos. Aqui, a natureza nunca deixou de ensinar, nem de responder.

Mas esse jardim está sendo ferido.

A monocultura avança como uma praga, derrubando o que é nativo, envenenando o solo e os rios, tomando o lugar de uma agricultura viva, diversa e sustentável. As queimadas aumentam. A terra racha. A água some. As comunidades tradicionais — que vivem da terra e com a terra — perdem seus territórios, sua autonomia e, muitas vezes, sua esperança.

A Chapada, conhecida como a “caixa d’água do Sertão”, cumpre um papel essencial na vida de milhões de pessoas. Ela absorve e distribui água, regula o microclima, abriga uma diversidade de biomas — Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica — e guarda fósseis, culturas, rezas e registros da história da humanidade.

Desde 1998, o Plano de Manejo da APA da Chapada está parado. A ausência desse documento deixa a região vulnerável à especulação imobiliária, ao avanço do agronegócio e ao uso descontrolado de agrotóxicos. Empresas já compraram mais de 12 mil hectares para plantio de algodão e soja, com apoio de políticas públicas que favorecem o modelo que destroi para lucrar. Em 2023, a Chapada perdeu quase 6 mil hectares de vegetação nativa para o desmatamento.

Enquanto isso, cresce o sofrimento:

Espécies como o soldadinho-do-araripe e o caranguejo Kingleya attenboroughi estão ameaçados de extinção. Comunidades enfrentam escassez de água e contaminação dos mananciais. O risco de desertificação e secas extremas aumenta a cada ano. A expansão urbana desordenada invade áreas sensíveis e sagradas.

Mas a Chapada não está sozinha.

Povos, coletivos, organizações e cidadãos conscientes estão se unindo em um grande movimento de proteção. A luta é pelo reconhecimento da Chapada do Araripe como Patrimônio Imaterial da Humanidade e pela proibição das monoculturas extensivas em seu território.

Não se trata de impedir o desenvolvimento. Trata-se de escolher um caminho justo, equilibrado e sustentável — que respeite a vida, a cultura e a sabedoria que brotam desse chão. A agroecologia já é uma realidade em muitas comunidades da região. A Chapada pode — e deve — ser exemplo de convivência com o semiárido, de cuidado com o bioma e de valorização da diversidade.

Que possamos retomar o compromisso original dado por Deus em Gênesis: cultivar e guardar esse jardim precioso chamado Chapada do Araripe.

Afinal, como diz a sabedoria bíblica, se escutarmos atentamente a terra, ela mesma nos responderá o que precisa: respeito, proteção e amor. Que possamos abrir nossos ouvidos e nossos corações para defender esse território sagrado.

Salve a Chapada do Araripe!

Porque ela é nossa, é do mundo… e é de Deus.

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* Texto por Fred Rahal do movimento Salve a Chapada do Araripe!

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