Por: David Silva.*
A assembleia e suas epidermes
Virtualmente presença sentida
Na tela, na alma, na pele, na arte
Imagens, reflexos, sons e estréia
Uma grei, uma teia na veia, não sei?
Meu relatório é hilário
Pela manhã e pela tarde
Marcando dia, mês e ano
Na ponta da caneta azul
Na minha agenda horário
Escrevi resenhas e desenhos
Entre traços, cortes e rabiscos
Uma forma diferente de escrita
Tão rupestres quanto primitiva
Que muitos nada entenderam
E poucos curiosos e inteligentes
Provocados, nem tentaram traduzir
Apenas por ser abstrato ao olhar
Esquisito demais e não os seduziu
Entre folhas, linhas e garranchos
Decifrei a mensagem de Marcos
Estrutura ou conjuntura?
Por onde começar?
Pelo sagrado ou pelo humano?
Pela torre de babel?
Pela torre de marfim?
Ou planejar e trabalhar
Juntando peças por peças
Desconstruidas e reconstruindo
No jogo real de quebra-cabeças
Na base pedacinhos de sonhos
Desenhando arte com crianças
Um presente-luz de esperança?
Que tal numa folha de papel?!
São camadas sensíveis de pele
Que vidas se concentram nelas
Na epiderme íntima alisa alma
Que analisa, realiza e acalma
Na conjugação do verbo ser:
Eu sou humano
Tu és humano
Ele é humano
Ela é humana
Nós somos humanos/as
Vós sois humanos/as
Eles são humanos
Elas são humanas
Todos e todas frágeis
Somos um sopro de ar
Formando essa gama
Chamada humanidade
Que nela está o Verbo Ser
Que o povo e o corpo sente
Seus medos, arrepios e calafrios
Seus males e suas epidemias
As dores humanas de Cristo
Na superfície da cor da pele
Na camada profunda da pele
O racismo
O egoísmo
O machismo
A misoginia
A homofobia
A crucificação
Na avenida, na praça, na igreja
Na rua, na escola e nas favelas
Na família, discoteca e no trabalho
No templo, no ônibus e no barraco
Entre trancos e barrancos
Nas cidades e nos bairros
Nas vilas, vielas e morros
Há influência do tráfico
Um desgoverno trágico
Corrupção e milicianos
Civis, ricos, católicos e milicos
Com seu mito pagando micos
O terrivelmente evangélico
Tornando-se o anticristo
Enfático num presidente
Que delira Nero o ridículo
Desemprego gerando fome
Violência gerando à morte
A loucura tenta um suicídio
O assassino faz o homicídio
Um psicopata gera genocídio
Sinto-me, gente, impotente
Mas quem não sente o mesmo?
Triste país! Triste Brasil! Triste!
Tenho medo do medo que me dá
De chegar a hora de não aguentar
De me acostumar com o caos
Medo da minha impotêncialidade
De perder na pele a sensibilidade
Das mortes que vejo as realidades
Medo de tornar-me um “morto vivo”
Perante as hostes vizir da maldade
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- David Silva é militante no grupo do Cebi PE, participante do Grupo de Aprofundamento na Região do Agreste. É poeta, formado e graduado em História .
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