Celebrar a vida em tempos de morte

Celebrar a vida em tempos de morte

Irmã Macionila Campos de Oliveira, osb.

Eu sou a Ressurreição e a Vida: aquele que crê em mim, mesmo que morra, viverá”. (Jo 11, 25)

 

Comemoramos em 2 de novembro, aqueles que morreram na esperança da ressurreição. Recordamos certamente, todos os dias em nossa oração de pessoas queridas que já não estão conosco; mas hoje, de modo especial, as confiamos à misericórdia do Senhor. A vida não é tirada, mas transformada. Disse Jesus: “E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês nisto? ” (Jo 11, 26).

E esta é a nossa esperança: “Aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola. Senhor, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada”(Prefácio dos fiéis defuntos I, A esperança da ressurreição em Cristo). Diante disso, nos afirma Santo Ambrósio em um de seus escritos: “Percebemos que a morte é lucro, e a vida, castigo. Por isso, Paulo diz: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1,21). Como unir-se a Cristo, espírito da vida senão pela morte do corpo? Morramos então com Ele, para com Ele vivermos. Morramos diariamente no desejo e em ato, para que, por esta segregação, nossa alma aprenda a se subtrair das concupiscências corporais; e, como se já estivesse nas alturas, onde não a alcançam os desejos terrenos, aceite a imagem da morte para não incorrer no castigo da morte. Pois a lei da carne luta contra a lei do espírito e apoia-se na lei do erro. Mas qual o remédio? “Quem me libertará deste corpo de morte? Graças sejam dadas a Deus, por Jesus Cristo Senhor nosso” (Rm 7,24s).

E ele complementa: E que mais? Pela morte de um só, o mundo foi remido. Cristo, se quisesse, poderia não ter morrido; mas não julgou dever fugir da morte como coisa inútil e que nos salvaria melhor, evitando a morte. Com efeito, sua morte é a vida de todos. Somos marcados com sua morte, ao orar anunciamos sua morte, ao oferecer o sacrifício pregamos sua morte; sua morte é vitória, é sacramento, e é a solenidade anual do mundo.

Ah! Assim podemos dizer como um trecho de uma música popular cantada na Liturgia: “A certeza que vive em mim, é que um dia verei a Deus, contemplá-lo com os olhos meus é a felicidade sem fim”. “O morrer do corpo não aponta para o passado cheio de sofrimento nem para a terra à qual todos voltamos”. Mas, aponta para a ressurreição de Jesus e para nossa também. E assim com coração, embora triste pela saudade, mas palpitante de alegria esperando a ressurreição, dizendo como São João no livro do Apocalipse (Ap 15, 3-4): “Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus Todo-poderoso! Teus caminhos são justos e verdadeiros, Rei das nações! Quem não temeria, Senhor, e não glorificaria o teu nome? Sim! Só tu és santo! Todas as nações virão ajoelhar-se diante de ti, porque tuas justas decisões se tornaram manifestas! ”. Diante disso, escutando o clamor dos que com fé esperam ansiosos a ressurreição, o Salmista escreve: “Esperei firmemente no Senhor, e ele inclinou-se para mim. Ouviu o meu clamor”… (Salmo 40, 2-3s).

Em nossa situação atual, muitos são os clamores diante de tantas perdas para a COVID 19 ou as variantes. Diante dessa situação, o nosso coração fica abatido, mas o Senhor ressuscitado, que está ao nosso lado, nos dá a certeza na ressurreição dos mortos e nos faz acreditar que viveremos eternamente e seremos salvos. Ele, nos faz ver uma luz no final do túnel. Por isso, peçamos ao Senhor que nos dê forças, conforte o nosso pranto e a nossa dor. Ressuscite todos os que morreram na fé e na esperança de dias melhores. E assim, temos a certeza que voltaremos a ver a luz divina! A ver aquele que nos criou, nos amou, nos modelou. Pois, “quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque nós o veremos como Ele é” (1 Jo 3, 2). Dessa forma, celebrar a memória dos mortos para os cristãos, é celebrar a vida eterna! Pois, “se vivemos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Romanos 14, 8).

O Catecismo da Igreja Católica nos números 1015 a 1019 nos ensinam que: “Caro salutis est cardo” (“A carne é o eixo da salvação”). Cremos em Deus que é o criador da carne; cremos no Verbo feito carne para redimir a carne; cremos na ressurreição da carne, consumação da criação e da redenção da carne. Pela morte a alma é separada do corpo, mas na ressurreição Deus restituirá a vida incorruptível ao nosso corpo transformado, unindo-o novamente à nossa alma. Assim como Cristo ressuscitou e vive para sempre, todos nós ressuscitaremos no último dia. “Cremos na verdadeira ressurreição desta carne que possuímos agora”. Contudo, esmaia-se no túmulo um corpo corruptível, ele ressuscita um corpo incorruptível, um “corpo espiritual” (1 Cor 15, 44). Em consequência do pecado original, o homem deve sofrer “a morte corporal, à qual teria sido subtraído se não tivesse pecado”. Jesus, o Filho de Deus, sofreu livremente a morte por nós em uma submissão total e livre à vontade de Deus, seu Pai. Por sua morte ele venceu a morte, abrindo assim a todos os homens a possibilidade da salvação.

Então, como cristãos podemos afirmar: “A ressurreição é mistério de fé, de libertação”.

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Fontes consultadas:

BÍBLIA – TRADUÇÃO ECUMÊNICA (TEB). São Paulo: Loyola, 1994.

BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.

BÍBLIA EDIÇÃO PASTORAL. São Paulo: Paulus, 1990.

BÍBLIA – TRADUÇÃO OFICIAL DA CNBB. Brasília-DF: Edições CNBB, 2019.

REVISTA LITÚRGICA O PÃO NOSSO DE CADA DIA. Marialva-PR: Mensa Verbi Editora, 2018.

ORAÇÃO DAS HORAS. Rio de Janeiro: Editora Vozes, Paulinas, Paulus e Editora Ave-Maria, 2004.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Rio de Janeiro-RJ e São Paulo-SP: Editora Vozes, Editora Paulinas, Edições Loyola, Editora Ave-Maria, 1993.

MISSAL ROMANO. São Paulo: Paulus, 1992.

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Sobre:

*Irmã Macionila Campos de Oliveira é pernambucana, mora em Olinda na Academia Santa Gertrudes, pertence a Congregação das Beneditinas Missionárias de Tutzing. Ajuda no ensino religioso da Academia Santa Gertrudes, faz parte da equipe do SOR e é estudante do segundo período de Teologia na UNICAP, é membro do Cebi PE participando da Escola Bíblica Quarto Sábado.

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