A Vida Religiosa Consagrada e a Leitura Popular da Bíblia

A Vida Religiosa Consagrada e a Leitura Popular da Bíblia

Por: Irmã Luciana Santos *

Ninguém vai ser feliz se andar sozinho…”

(Zé Vicente)

A Vida Religiosa Consagrada se encontra e se realiza plenamente no meio do povo à luz da Palavra. É essa a leitura que fazemos desse modelo de vida. É nos pequenos grupos reunidos – “espaço aberto para acolher” – através dos encontros, da escuta, do estudo, da aproximação e da intimidade com a Palavra de Deus, fazendo leitura da realidade e descobrindo juntos/as as luzes que ajudam na transformação social, política, econômica, religiosa e cultural que a Vida Religiosa Consagrada deseja ser sinal de luz e esperança na vida dos desesperançados. Sem essa experiência a Vida Religiosa Consagrada se tornaria um mero conceito teórico religioso que já não fala mais para o mundo.

Nos anos 80, quando criança, acompanhava meus pais para as celebrações nas casas das famílias, e as vezes debaixo das árvores nos terreiros, celebrávamos a “ Palavra do Senhor” com o povo nas tardes de domingos. Eu não entendia muito das coisas, mas ao ouvir as experiências contadas por cada pessoa ali presente, que a seu modo falava de como entendia o evangelho, as letras, as melodias dos cantos ressoavam muito bonitas em meus ouvidos a ponto de me acompanharem na fase da adolescência e juventude, onde cheguei a apreciar as descobertas para a Vida Religiosa através da letra da música “Do Meio do Povo” e a música “O Profeta”, que canta a vocação do profeta Jeremias:“Antes que te formaste dentro do seio de tua mãe…”

A Vida Religiosa Consagrada comecei a entendê-la lendo os livros proféticos, principalmente o livro de Jeremias e Isaías. A vocação a qual se busca viver a exemplo do testemunho desses dois profetas, digo que é o fascínio. A paixão de Deus por um povo e o apelo que Ele nos faz para sairmos de nossas comodidades e abraçar uma causa é que dá o sentido. Somos limitados/as, mas sua presença é fiel e se encarna em nossa história por que Ele nos conhece, nos consagra, e nos faz profetas das nações. Como Irmã Consagrada e de vida inserida no meio popular, minha opção pela Vida Religiosa Consagrada, surgiu a partir de uma experiência simples vivida nas Comunidades de Base e se firmou com os estudos do CEBI, que tanto venho aprendendo ate hoje. Sobretudo com esse jeito popular de ler a Bíblia e a vida. Eu sempre admirei a sabedoria daquela gente simples que lia o Evangelho, fazia sua reflexão partilhada da Palavra e da Vida do jeito que entendiam e viviam.

Assim fui descobrindo o jeito de ser e viver no meio do Povo. A irmã Cecilia Pousa, irmã inserida nos meios populares, dizia que o testemunho profético assume também um outro lado, o seu direito de voz e vez, de cidadania e de consciência. Ser profetas e profetisas no mundo atual significa, simples e puramente, “assumir verdadeiramente os valores evangélicos como motivação fundamental de nossa vida e ação” (MOREIRA: 2006, pg. 86).

A Leitura Popular da Bíblia é também um método que tem sido o óculos que ajuda a Vida Religiosa Consagrada olhar o mundo com um olhar diferencial e até mesmo mudar seu modo de ser e estar no mundo inserindo pela proximidade, pela escuta e o envolvimento mais concreto com o mundo dos empobrecidos. Só a formação dos Institutos religiosos não abre e alarga a visão no mundo se não há um encontro profundo com a Palavra que faz arder o coração na realidade sofrida do povo. É a experiência com a Palavra que provoca as inquietações e interpela para a mudança de vida pessoal e social. Nela vamos encontrando um dos princípios da Leitura Popular da Bíblia dito por Maria Soave: “A promoção de uma prática de empatia e empoderamento”. Essas atividades e os processos formativos ajudam na realização e na compreensão de uma prática solidária, que nos movem a tomar atitudes diante da vida.

Nos últimos tempos escuto falar que a Vida Religiosa Consagrada precisa voltar a fonte. Qual a fonte que ela está bebendo no presente? A Palavra é a fonte pela qual emana nosso viver e jamais se esgota. Mas não é qualquer “viver-modo” que é inspiração da fonte.

A Vida Religiosa Consagrada é sinal da ternura de Deus para com a humanidade. É a dedicação sem limites, a alegria e a presença profética que define nosso ser consagrado no mundo. Empenhar-se pelo zelo apostólico e a entrega incondicional aos mais pobres e necessitados é ainda característica própria das mulheres consagradas. Esse é o modelo que precisamos sempre está confirmando e atualizando para com a humanidade.

A Vida Religiosa Consagrada vale apena, e a Palavra de Deus, lida sobretudo à luz da Leitura Popular da Bíblia, é “uma lampada para meus pés e luz para o meu caminho” (cf. Sl 119,105)

Celebrando as Vocações pela ocasião do mês de agosto, e os 50 anos do Mês da Bíblia em setembro na ICAR, que possa esse pequeno testemunho ajudar a você amigo/a internauta, se encantar cada vez mais pela busca do Sentido que o trouxe até aqui.

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* Irmã Luciana Santos. É da da Congregação Missionária da Sagrada Família, e residente em Floresta /PE. Como irmã missionária na Congregação, sempre se dedica ao acompanhamento e animação dos círculos bíblicos na ótica do CEBI PE, nas realidades por onde mora. Atualmente é membra do Conselho Consultivo da Congregação e estudante do curso de Bacharelado em Serviço Social. A Congregação Missionária da Sagrada Família, é de origem Nordestina no interior do sertão da Paraíba na Diocese de Cajazeiras. Foi fundada no dia 11 de fevereiro de 1978. Tem como carisma fundante a MISSÃO e assume sua identidade inteiramente missionária: “Amando, Servindo e Anunciando”.

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